Por Nina Sedova
Algumas dezenas de jovens desembarcam em solo cubano em busca de realizar uma revolução, após serem atacados, pouco mais que um punhado deles sobrevive... tempos depois, em 1º de janeiro de 1959, o exército rebelde marchava sobre Havana, protagonizando assim um dos maiores feitos da história recente do continente americano: um pequeno grupo de jovens inicia uma revolução que, após ganhar o apoio das massas cubanas, derrota um ditadura (apoiada pelos EUA) e subverte a ordem e o status quo no país.
Desde então, não sem motivos, a Revolução Cubana, seu atos prodigiosos e o regime que daí surgiu impressionou a todos, e gerou profundos debates e controvérsias. Cuba, então, tornou-se, na boca dos mais conservadores, o perigo comunista constantemente evocado para justificar suas posições (mesmo que isso consistisse na defesa de ditaduras). Por outro lado, entre os defensores do regime da Ilha, Cuba tornou-se uma espécie de paraíso, um lugar idílico, no qual o germe de uma sociedade comunista, justa e sem máculas principiava em nascer sob os auspícios dos discursos – com oito horas de duração – de Fidel.
No entanto, entre um extremo e outro, o que existe de verdade? Qual a natureza do regime castrista? Seriam os seus desertores traidores da revolução ou pessoas comuns fugindo de uma ditadura? Obviamente, as respostas a todas essas perguntas não são simples, precisam de explicações históricas e complexas, mas podemos encontrar algumas indicações (e provocações) a respeito disso no quadrinho “Cuba, minha revolução”.
O quadrinho tem um roteiro auto biográfico escrito por Inverna Lockpez(artista plástica cubana que vive exilada nos EUA. Uma breve biografia sua pode ser encontrada em http://www.invernalockpez.com/bio/index.htm) arte de Dean Haspiel e foi publicado pelo selo Vertigo em 2013, mas só chegou ao Brasil em 2014 com capa dura e um bom papel. Ao longo de pouco mais de 140 páginas acompanhamos a história de Sônia, uma jovem de classe média que se encanta com a Revolução e decidi dedicar sua vida a ajudar na construção de uma nova Cuba. O primeiro passo que Sônia dá nesse sentido é entrar na faculdade de medicina, a despeito de seu sonho de se tornar artista plástica, Sônia acredita que Cuba tem maior necessidade de médicos, e decidi sacrificar, mesmo que momentaneamente, seus interesses pessoais. Além disso, a jovem se alista numa espécie de milícia revolucionária onde recebe treinamento militar.
A partir de então se inicia uma relação de amor e ódio com a Revolução. Ao passo que Sônia acredita sinceramente na possibilidade de um novo país surgir sob a direção de Castro, uma série de contradições e problemas surgem no caminho. A Revolução passa longe de daquilo que foi idealizado por Sônia, e uma série de medidas autoritárias e burocráticas tomados pelo governo Castro conflitam com os princípios nos quais a jovem acredita.
A vida de Sônia, sua família e a defesa daquilo que ela acreditava ser a sua Revolução vão ficando cada dia mais difíceis: escassez de produtos de primeiro ordem, repressão, falta de liberdade de expressão, amigos presos, torturas, campos de trabalhos forçados para traidores e desertores da Revolução (estes podem ser dissidentes políticos ou apenas homossexuais) e uma longa lista de etc. A própria Sônia, em decorrência de um pequeno ato de insubordinação, amarga alguns duros meses na cadeia.
A decepção é inevitável, e a ruptura com o regime castrista também. A solução final, a fuga para os EUA, embora seja um clichê, não deixa de ser verdadeiro. E é exatamente no desfecho que encontramos o ponto mais baixo da história: a apresentação dos EUA como a “terra da liberdade”! Nada poderia soar mais falso, já que a própria história contada mostra que, ao menos em parte, os EUA são cumplices ou culpados pelas misérias do povo cubano. Seja apoiando ditaduras como a que precedeu o governo de Castro, seja ameaçando constantemente a ilha com invasões militares.
Apesar do final um tanto quanto hollywoodiano, o conjunto do quadrinho não é comprometido, e pode-se dizer que ele consegue construir um quadro complexo e realista da situação cubana sem cair em maniqueísmos ou simplismo, seja de um lado ou de outro.
Agora, um comentário sobre a arte: Dean Haspiel e José Villarrubia utilizam um recurso já bastante conhecido, com a história sendo contada toda em preto e branco, mas usando o vermelho para os elementos que o artista quer chamar a atenção, num estilo “A Lista de Schindler”. Um recurso que funcionou muito bem no quadrinho, pois consegue dar dramaticidade na medida certa, escapando de obviedades. O desenho de Haspiel é bom e convence, as cores de Villarrubia dão vida.
Em síntese, “Cuba: minha revolução” é uma boa história, não é ótima, mas é boa! Vale a pena ser lida, de 0 a 10, eu daria entre 6 e 7. E considerando que trata de assuntos e eventos tão marcados por produção panfletárias, a sugestão de leitura é ainda mais válida.
Título: Cuba Minha Revolução
Autores: Inverna Lockpez (roteiro), Dean Haspiel (arte) e José Villarubia (cores)
Formato: 17,5 x 23 cm
144 páginas
Capa Dura
R$ 48,00
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