Por Audaci Jr
O álbum reúne as primeiras aventuras e traquinagens dos dois garotos publicadas nos anos 1930 pelo “pai” do Tintim, no Le Petit Vingtième, suplemento infantil semanal do jornal belga Le Vingtième Siècle.
É incontestável a herança que o belga Hergé (1907-1983) deixou para a Nona Arte. Lendo as histórias do intrépido repórter Tintim, percebe-se como ele influenciou uma legião de artistas, tanto no traço conhecido como “linha clara”, como no espírito aventuroso herdado até no cinema (Spielberg, antes de dirigir a animação do personagem em 2011, O segredo do Licorne, já indicava admiração nos seus Indiana Jones).
Até este primeiro volume de As diabruras de Quick e Flupke, o leitor brasileiro estava carente ou desconhecia qualquer outra obra do quadrinhista.
A primeira aparição dos garotos Quick e Flupke aconteceu em janeiro de 1930, no Le Petit Vingtième, suplemento infantil semanal do jornal católico belga Le Vingtième Siècle, um ano depois da aparição de Tintim (note que ele e seu cão Milu aparecem ao fundo da capa deste volume).
Inspirado nas suas reminiscências infantis pelas ruas de Bruxelas, nos cartuns norte-americanos, a exemplo de Krazy Kat, de George Herriman, e no cinema de Chaplin, a série criada por Hergé era produzida inicialmente em preto e branco – assim como Tintim. Só depois da Segunda Guerra Mundial é que o material foi colorido e compilado em álbuns, onze no total, lançados originalmente entre 1949 e 1969.
Rezava a lenda que, na volta de suas férias, o artista belga foi surpreendido por uma “brincadeira” dos colegas do jornal. Sem avisar, haviam anunciado publicamente que ele lançaria uma inédita série de quadrinhos. Com poucos dias, Hergé juntou várias referências e criou os dois moleques, produzindo histórias em duas páginas semanais.
Situando a época, algumas situações parecem bastante inocentes, conservadoras e datadas. Outras, porém, mostram-se muito inventivas e engraçadas. As trapalhadas comuns do Capitão Haddock em As aventuras de Tintim podem ser projetadas na figura do Agente nº 15, um policial que vive no pé dos garotos e tem um bigode mais parecido com os Irmãos Marx – ou até os detetives Dupond e Dupont, de sua obra mais famosa – do que o Carlitos.
A capacidade de Hergé de desenvolver tramas longas com Tintim e companhia é antagônica em relação à brevidade das pílulas de travessuras de Quick e Flupke.
Assim como As aventuras de Tintim, as confusões da dupla serviram como base para uma série televisiva de desenho animado, exibida na década de 1980.
Com o humor nonsense, a arte clássica de Hergé e o uso vibrante das cores, o álbum cumpre seu papel de apresentar o artista sem o desvincular do estilo que lhe deu fama mundo afora e ser uma leitura que garante entretenimento.
A edição da Globo está à altura da grandeza de Hergé: capa dura, ótima impressão em um papel de altíssima gramatura, dando um volume muito maior ao livro. O preço também é outro atrativo para o leitor começar esta nova coleção.
O único e vital “porém” é a falta de um texto introdutório, explicando a importância do autor e sua obra para os quadrinhos mundiais ou apresentando e situando os “novos” personagens ao leitor brasileiro. Infelizmente, nem todos conhecem o trabalho de Hergé. Apesar de ser esteticamente bonito, não há nem uma linha sobre o assunto na quarta capa.
Independentemente disso, As diabruras de Quick e Flupke é um dos melhores resgates promovido por uma editora no Brasil.
Título: As diabruras de Quick e Flupke – vol. 1
Autor: Hergé
Páginas: 184 - Capa Dura
Formato: 21cm x 28cm
Preço: R$ 39,90
Autor: Hergé
Páginas: 184 - Capa Dura
Formato: 21cm x 28cm
Preço: R$ 39,90
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(Publicado originalmente no site Universo HQ no dia 07 de fevereiro de 2014)
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