Já falei aqui de Persépolis e Bordados, histórias em quadrinhos em preto e branco, autobiográficas, com traços simples e uma leitura deliciosa. Kiki está, definitivamente, na mesma categoria. Recebeu os prêmios Prix Essentiel FNAC SNCF, no Angoulême 2008, Grand Prix RTL Comic Strip, em 2007 e o Millepages BD, também em 2007.
Os traços de Catel Muller são, obviamente, diferentes dos de Satrapi e os desenhos são um pouco mais elaborados, mostrando o cenário e delineando partes da França no início do século XX. Ainda assim, há a preferência por um traço mais "clean", evidenciando os personagens em questão, as ações e as emoções. Catel se utiliza, inclusive, de closes bem fechados no rosto e, principalmente, nos olhos dos personagens, algo que provoca um efeito muito interessante no andamento da história.
Kiki nasceu Alice Prin, em Châtillon-sur-Seine em 1901. A mãe foi embora para Paris e deixou a pequena para ser criada pela avó, junto com os outros primos. Seu pai, desconhecido. Seu "padrinho", um vendedor clandestino de bebidas alcoólicas. Desde pequena, Alice era muito travessa e gostava de aparecer. O padrinho Jules a levava para os bares quando fazia suas entregas, e ela cantava para o público.
Aos doze anos, a mãe chama Alice para Paris, para aprender a ler e escrever e se tornar litógrafa, como ela. Passados dois anos, a mãe arranja para a adolescente um trabalho numa padaria, para tirá-la de casa. Lá, sua personalidade forte acaba por lhe trazer problemas, principalmente após conhecer um escultor. É expulsa da padaria e então começa sua vida de artista, modelo, cantora, pintora e escritora (ela chega a escrever uma autobiografia, o único livro com prefácio de Ernest Hemingway).
Adepta do amor livre e da boemia, Alice tem diversos amantes, a grande maioria do meio artístico e, do primeiro, o pintor Maurice Mendjisky, recebe o apelido Kiki, com o qual ficou conhecida como a Rainha de Montparnasse. Kiki era motivo de alegria para vários e de inveja para tantos outros. Teve amizade com diversos artistas, tanto pintores e escultores como escritores e cineastas. O livro de Catel Muller e José-Loius Bocquet retrata sua ascenção e sua queda como artista e como mulher forte e determinada, que não deixa de lado sua natureza contestadora, mesmo numa época em que ser mulher era difícil e o trabalho de modelo era mais desprezado do que o de prostituta.
No final, ainda há uma cronologia da vida de Kiki e dados biográficos dos artistas com os quais ela se envolveu, inclusive uma mulher. O romance (afinal de contas, um romance gráfico, mesmo que biográfico, é um romance) mostra que o amor, para Kiki, não apenas era livre como não tinha gênero, era livre de preconceitos e seu amor maior era pelo palco
A foto de Kiki que inspirou a capa do livro. |
O rosto da musa. |
Kiki de Montparnasse, de Catel & Bocquet
Lançado no Brasil em 2010 pela editora Record.
Brochura.
416 páginas.
Formato: 17 x 24 cm
R$ 55,00
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