Por Audaci Jr
Cosmo é um garoto comum, que adoraria ter um bichinho de estimação, algo que o regulamento de seu prédio não permite, como orienta seu bonachão pai.
Assim, ele embarca numa aventura intergaláctica em busca de uma criatura com quem possa dividir seu beliche e ensinar a saltar dentro de arcos flamejantes.
Quando foi criado pelo francês Antoine de Saint-Exupéry, o Pequeno Príncipe não sonhava nada além de querer cativar um amigo quando pegava carona em cometas, aproveitando a viagem espacial para esquecer seus problemas envolvendo rosas temperamentais e insistentes baobás.
Setenta anos depois, esse pensamento é o mesmo que enche de esperança o garotinho Cosmo, que fica encantado e literalmente babando quando assiste na TV um dos melhores amigos do homem fazer truques e lhe cativar.
Com a sabedoria e lógica de uma criança, somadas ao espírito aventureiro de um Flash Gordon mirim, Cosmo parte com sua pequena (e tagarela) nave para o espaço, a fronteira final.
Expandindo os horizontes além dos buracos negros do seu álbum de estreia,
Achados e perdidos, os mineiros
Damasceno e
Garrocho se superam no seu segundo trabalho juntos.
Vendo por cima, Cosmonauta Cosmo! parece ser apenas uma história cunhada de moral para o público infantil, mas observando o todo de perto com um astrolábio, a obra se mostra tão brilhante quanto uma supernova.
Os autores fazem da aventura, dividida em cinco capítulos, uma leitura tão simples para o público infantil quanto a complexidade moral em suas entrelinhas da exploração espacial do pequeno protagonista.
Aos poucos, as histórias, aparentemente conectadas apenas pelo rebite do “procurar um alienígena como amigo”, se alinham como um quebra-cabeça. Quando a última peça se encaixa, revela na sua totalidade a essência infantil esquecida pelos adultos sobre buscas, perseverança e amizade.
Como Sidney Gusman, editor-chefe do Universo HQ, atenta na apresentação da quarta capa, o trabalho técnico dos quadrinhistas na concepção das páginas de Cosmonauta Cosmo! merece atenção.
A bela paleta de cores do álbum é cuidadosamente usada em cada capítulo, junto com a destacada utilização de onomatopeias, uma função quase esquecida na narrativa da arte sequencial e, neste álbum, colocada como uma essencial ferramenta, interagindo com a arte e sendo quase um personagem na aventura de Cosmo pelos cantos do espaço.
Com uma diagramação e balões elegantes, o formato do álbum (
29,7 x 21 cm) é bem explorado nas ações panorâmicas, seja em planetas gelados, verdejantes, desérticos ou no estrelado vácuo espacial.
Tão belo quanto o traço é o projeto editorial da Miguilim / Quadrinhos Rasos, com uma boa impressão em papel offset, capa cartonada com orelhas, aplique de verniz destacando um efeito “poeira de estrelas”.
Tudo isso desenvolvido em software livre, assim como Achados e perdidos.
Se a procura de um alienígena para burlar o regulamento do seu prédio não lograr êxito, a única certeza que Cosmo terá é a de cativar uma legião de leitores, assim como o personagem de Saint-Exupéry sete décadas atrás.
Cosmonauta Cosmo!Autores: Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho
Formato: 29,7 x 21 cm - 112 páginas
Editora:
Miguilim / Quadrinhos Rasos
R$ 49,00
(Publicado originalmente no site
Universo HQ no dia 04 de outubro de 2013)
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